A recente ofensiva tarifária imposta pelos Estados Unidos, por meio das medidas de Donald Trump, escancarou uma realidade incômoda que muitos preferem ignorar: a fragilidade do discurso patriótico do bolsonarismo. Sempre travestido de defensor intransigente da soberania nacional, esse campo político mostrou mais uma vez que seu compromisso real não está com o Brasil, mas com a subserviência ideológica a lideranças estrangeiras. Enquanto o tarifaço ameaça setores fundamentais da economia brasileira, o silêncio ou as respostas tímidas daqueles que tanto falam em “Brasil acima de tudo” se tornam ensurdecedores.
É curioso observar como, ao longo dos últimos anos, se construiu uma imagem de força e independência que, na prática, desaparece frente a qualquer embate com potências internacionais. O tarifaço de Trump impacta diretamente a exportação de produtos brasileiros e compromete empregos e investimentos, especialmente em áreas já fragilizadas economicamente. Mesmo assim, a reação do bolsonarismo é marcada pela omissão e por um discurso que evita o confronto direto, preferindo preservar alianças ideológicas a defender de fato os interesses do país.
Essa submissão não é um fato novo, mas ganha contornos ainda mais evidentes em momentos de crise. O tarifaço de Trump deveria ter provocado um levante diplomático, um posicionamento firme e articulado para proteger a indústria e os trabalhadores brasileiros. Em vez disso, vemos tentativas de minimizar o impacto, desviar o foco e, mais uma vez, repetir chavões vazios que só reforçam a desconexão entre a retórica política e a realidade enfrentada pelos brasileiros. A indignação seletiva escancara um projeto que nunca teve o povo como prioridade.
O que se percebe, em última instância, é uma inversão de valores. Os mesmos que acusam adversários políticos de entreguismo são incapazes de reagir com firmeza quando o Brasil é atingido por decisões externas unilaterais e prejudiciais. O tarifaço de Trump, ao revelar a inércia da resposta bolsonarista, também coloca em xeque todo o discurso de soberania que tanto tentaram consolidar. Essa postura enfraquece o país internacionalmente e transmite a mensagem de que o Brasil está disposto a aceitar prejuízos em troca de alinhamento ideológico.
Jandira Feghali, em sua crítica, expõe com clareza essa contradição. Não se trata de mera disputa política, mas de uma constatação evidente: não há como defender o Brasil enquanto se aceita passivamente que potências estrangeiras prejudiquem sua economia. O tarifaço de Trump é um exemplo didático de como a retórica do nacionalismo bolsonarista desmorona quando colocada à prova. É nesse tipo de confronto que se vê quem realmente está ao lado dos interesses nacionais.
A ausência de uma política externa ativa e soberana se torna ainda mais grave quando se percebe o impacto concreto que o tarifaço pode trazer. Empresas já sinalizam retração de investimentos, trabalhadores vivem com incertezas e setores inteiros da indústria enfrentam dificuldades para manter competitividade. O bolsonarismo, ao não reagir com vigor, legitima essas perdas e assume um papel de cúmplice no empobrecimento do país. Fica claro que o discurso patriótico, nesse caso, não passa de um artifício eleitoral sem compromisso com a prática.
Esse episódio também serve como alerta para o futuro. O Brasil precisa urgentemente retomar uma política externa centrada em seus próprios interesses, capaz de dialogar com diferentes nações sem submissão ou dependência. O tarifaço de Trump expõe que alianças ideológicas não garantem proteção econômica e que, ao contrário, podem fragilizar ainda mais o país. É hora de abandonar a ilusão de que a proximidade com certas lideranças internacionais trará benefícios automáticos. O preço dessa dependência já está sendo pago.
Portanto, o tarifaço de Trump não é apenas um problema comercial, mas uma prova contundente da falência do projeto bolsonarista de soberania. Diante do prejuízo à economia nacional e da ausência de reação, resta evidente que o discurso de patriotismo serviu apenas como fachada para interesses alheios aos da população. A resposta do bolsonarismo, uma vez mais, foi a omissão — e essa escolha diz muito sobre as verdadeiras prioridades desse grupo político.
Autor : Latos Simys