Em novembro do ano passado eclodiu o que viria a ser conhecido como ‘Dublin Riot‘ (Rebelião de Dublin, numa tradução literal). A cidade irlandesa se viu tomada por protestos violentos anti-imigração, com lojas saqueadas, veículos incendiados e autoridades literalmente apedrejadas. Uma mulher e três crianças (uma delas de apenas 5 anos, de acordo com o primeiro-ministro Leo Varadkar) foram esfaqueadas, e mais de 30 pessoas foram detidas.
Na ocasião, a ministra da Justiça irlandesa, Helen McEntee, interagiu diretamente com as plataformas de redes sociais, em conjunto com a Gardaí (as forças policiais irlandesas), para a remoção de mensagens de ódio contra imigrantes e incitação à violência que se espalharam internet afora.
Segundo a ministra à Dáil Éireann (o parlamento irlândes), todas as redes sociais, menos uma, responderam prontamente aos apelos e se engajaram na remoção de mensagens de ódio anti-imigração. Enquanto TikTok, Facebook e Instagram (as duas últimas do grupo Meta) se empenharam em varrer as publicações ódio que irromperam de forma assustadora, o X (antigo Twitter), conforme McEntee, simplesmente “não se envolveu”. “Eles não cumpriram os padrões de seus próprios clientes”, disse.
Como visto, Elon Musk e seu X têm um histórico de confundir “liberdade de expressão” com “expressão criminosa de ódio”, e gargalhar diante de situações incendiárias nos países onde opera. A diferença é que, enquanto lá fora os patriotas (como define o dicionário, ‘patriota’ é aquele que ama sua pátria, seu país de nascimento, que se esforça para lhe ser útil) enxergam a necessidade óbvia de impor a Lei acima do crime para a manutenção da paz e ordem em seu país, aqui, em terras tupiniquins, os “patriotas” se empenham em fazer gol contra, trabalhando ativamente contra a democracia de sua própria nação.
Estamos falando de comitivas inteiras de políticos brasileiros da extrema-direita viajando aos EUA para “denunciar” que no Brasil há uma “ditadura” imposta pelo Supremo Tribunal Federal, na figura, principalmente, do ministro Alexandre de Moraes. A ditadura: as mesmas decisões judiciais tomadas em qualquer outro país civilizado, como a Irlanda, para a remoção de conteúdo das redes sociais que façam apologia a crimes de ódio, ataques à democracia e fake news.
Na esteira disso, deputados norte-americanos alinhados a esse discurso vazam decisões sigilosas da Justiça brasileira referentes à remoção de conteúdo criminoso do X e, pasmem: são aplaudidos pelos “patriotas”.
Tim Maia uma vez disse: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme”. Ouso acrescentar: e aqui, também, “patriota” vai pra terra estrangeira dar munição contra a democracia e a Justiça de seu próprio país.